O livro ‘A Cabana’, clássico
literário do canadense William P. Young, lançado pela a Editora Arqueiro em 2007, tornou-se conhecido no mundo inteiro. Na verdade até bem pouco tempo atrás,
era de se estranhar alguém não ter lido o livro ou sobre ele. Foi realmente um
sucesso, a obra de Young, que segundo ele, inicialmente não tinha objetivos
comerciais, se tornou um dos títulos mais vendidos dos últimos tempos,
encabeçando a famosa lista dos livros mais vendidos do ‘The New York Times’,
conquistando um público eufórico e fascinado, de diversas nacionalidades. Bem,
as características que acabo de citar, foram as que me fizeram adquirir o
livro, eu estava muito curioso em conhecer a história que havia emocionado
milhares de pessoas, em diversas partes do mundo.
Iniciei a leitura cheio de expectativas, a história do livro é realmente
encantadora e emocionante. Tudo começa quando o personagem principal da
história, Mackenzie Allen Philips, ou simplesmente ‘Mack’, como é chamado
durante toda a narrativa, recebe em sua caixa de correio uma mensagem
datilografada, supostamente escrita por Deus (Papai), o convidando para passar
o final de semana em uma cabana. Cabana esta, que até este momento para o
leitor, não faz o menor sentido, mas que com o desenrolar dos primeiros
capítulos, fica evidente que é um lugar bastante embaraçoso para Mack, pois
fora ali que sua filha Missy, encontrou a morte, sendo assassinada por um
maníaco em série. Apenas lembrar-se daquele local gerava na mente de Mack, uma
tenebrosa cena de horror e, ir até o local novamente, para ele seria uma
experiência impensável.
Desde o traumático dia da perda de sua filha, Mack de alguma forma sentia-se
culpado por tudo o que ocorreu, a isto o autor chama de a ‘Grande Tristeza’ e,
de certa forma essa foi um combustível decisivo na decisão de Mack em enfrentar
os seus medos e voltar à temida cabana.
Até este momento, estava eu, muito empolgado com o livro, a vontade exacerbada
de descobrir o que havia na cabana, realmente é empolgante, porém é exatamente
a esta altura da história que os meus conceitos sobre a trama, começaram a
declinar. Em meados do 5º capítulo, a narrativa toma um rumo totalmente
inesperado, um rumo onírico, fantasioso, fantástico. De fato, o bilhete vinha
de Deus para Mack, o que particularmente eu não esperava que fosse ocorrer,
queria eu, que minhas surpresas parassem por aí.
O aflito Mack tem um encontro com a ‘Trindade’, o Pai, representado no livro
por uma negra, o filho Jesus, que no livro é apenas um homem hebreu meio
atrapalhado, e Sarayu que é um tipo de energia ou uma mulher asiática, não
consegui definir bem, que é a representação do Espírito Santo. Confesso que
tomei o meu primeiro choque com o livro aí, mas por teimosia quis ponderar, pois
tudo era apenas uma ficção, no entanto, quanto mais avançava as páginas, um
questionamento crescia forte dentro de mim:
É a Teologia que está a serviço da
fantasia, ou a fantasia que deve estar a serviço da Teologia? Quem deve se
moldar, quem deve se sobressair?
Foi a partir desta auto indagação que comecei uma leitura mais paulatina do
livro, analisando minuciosamente cada diálogo e afirmações expostas como
verdades na obra. A partir do 6º capítulo, o livro é uma sucessão de diálogos de
Mack com os três integrantes da Trindade, o objetivo destes diálogos são tratar
a ‘Grande Tristeza’, que está enraizada no coração de Mackenzie. Com o passar
dos capítulos, uma a uma, todas as áreas da vida dele vão sendo ‘curadas’, e
diversos conceitos que Mack tinha como verdadeiros e indiscutíveis sobre a
pessoa de Deus são quebrados, e é exatamente no estabelecimento destes
paradigmas, e nos processos utilizados por Young para gerir a restauração de
Mack, que o livro apresenta erros teológicos catastróficos.
Qualquer
pessoa com um conhecimento raso das Escrituras Sagradas, conseguiria refutar e
rejeitar com um olhar mais atento, os posicionamentos apontados como bíblicos
em ‘A Cabana.’ O grande problema, é que a história é tão emocionante e bonita,
e o leitor fica tão “encantado” e, extasiado com o ‘deus’ que ele pensa estar
conhecendo, que nem leva em consideração tais inconvencionalidades. São
conceitos deturbados sobre a Trindade, a divindade e humanidade de Cristo, o
juízo e onisciência de Deus, sobre o pecado e não para por aí, a obra
desqualifica a Igreja como coluna e baluarte da verdade, como se não bastasse,
há a ocorrência de Espiritismo, quando Mackenzie tem a oportunidade de se
encontrar com a filha morta, e até mesmo com o seu pai que perdera há anos,
para em um mundo paralelo obtêm o perdão dele, que o faz se sentir
mais leve e próximo de Deus, entre outras diversas deslealdades as verdades
inerrantes da Bíblia Sagrada. Quem estiver interessado em conhecer mais
a fundo os perigos teológicos presentes “nesta cabana”, dê uma lida neste artigo do Tim Keller, e neste do Mark Driscoll, publicados no blog Voltemos ao Evangelho.
Realmente não sei como este livro fez tanto sucesso entre a comunidade Cristã,
para mim, a venda estratosférica de ‘A Cabana’, apenas demonstra a falta e a
precariedade do discernimento Bíblico e Teológico da Igreja em nossos dias,
igrejas cheias de pessoas que se interessam por um Deus aos moldes do ‘deus’
enfocado por Young, um ‘deus’ que se dobra aos desejos humanos, que não nos
recrimina, apenas nos aceita, sem fazer perguntas, um ‘deus’ essencialmente não
bíblico.
Não precisamos de nenhuma outra literatura para nos ensinar quem é o Senhor, o
que Deus é, o que ele faz e como ele nos ama, a Bíblia Sagrada é extremamente
suficiente para nutrir toda a nossa sede de conhecer e se relacionar com Deus,
não estou dizendo que não existam outros títulos de qualidade, de uma teologia
ilibada, com os quais também possamos aprender sobre Jesus Cristo e o seu Evangelho,
porém todos estes deverão passar pelo crivo dos posicionamentos bíblicos,
processo este que a meu ver, o livro do William P. Young, foi esmagadoramente
reprovado.
‘A
Cabana’, realmente não é um livro que eu indicaria, mas se você tem desejo de
ler, vá em frente, até porque para criticar algo ou alguém, você tem de
conhecer a fundo, porém durante a leitura, tenha sempre uma Bíblia nas mãos,
discernimento apurado e uma boa orientação teológica.
Sem mais,
Até a próxima semana!
Carlos Magno.